QUARTINHA

Fundamentos & Rituais



Hoje quero falar um pouco sobre o que aprendi sobre o uso litúrgico das quartinhas no ritual umbandista. Quem nunca entrou em uma loja de artigos religiosos e se deparou com prateleiras imensas com diversas peças de barro cru ou envernizado e porcelana brancas e coloridas, com ou sem asas?

Tanto na Umbanda como no Candomblé as quartinhas são amplamente usadas dentro dos ritos religiosos que compõem os costumes de cada casa. Servem para assentar ou firmar Orixás ou Guias de Trabalho conforme a necessidade da casa ou do médium que realiza o ato religioso.

De acordo com o que aprendi um dos fundamentos que está por trás das quartinhas é o seu formato que se repararmos bem se assemelha ao do útero materno, onde se aloja o embrião para seu desenvolvimento após a concepção.

Quando assentamos ou firmamos uma força divina (Orixás) ou um guia de luz em uma quartinha estamos oferecendo a eles condições para desenvolverem seu trabalho ou suas forças e assim irradiem pra nós tudo de bom que possam oferecer de bom de acordo com nosso merecimento.

Quanto a forma de fazer ou que tipo usar cada casa tem um fundamento, cada dirigente aprendeu de um jeito eu por ter passado por algumas casas ao longo de minha trajetória espiritual aprendi de duas formas.

Uma delas é que independente se é firmeza ou assentamento para Orixás ou guias masculinos usamos a quartinha sem asa e para Orixás e guias femininos quartinhas com asas.

A segunda é que se for um assentamento a quartinha deverá sempre ser sem asas, independentemente de serem masculinas ou femininas. 

Alguns terreiros tem como fundamento fazer a quartinha do anjo da guarda de todos os filhos e mantê-las sob os cuidados do dirigente especial em um cômodo do terreiro destinado para esse trato. Nessas quartinhas entre outros elementos vão um pouco de cabelo retirado do topo do ori (cabeça) em ritual específico.

Infelizmente nem todos os dirigentes sabem e/ou conseguem separar o pessoal do religioso e quando um filho de santo se torna um desafeto ou um ex-filho de santo este é atacado por aquele que se dizia ser seu "pai de santo" enquanto frequentava seu terreiro.

Felizmente a espiritualidade é muito grande e quando somos vitimas desse tipo de gente somos direcionados para uma casa onde o dirigente com o auxilio dos Orixás e dos Guias de Luz de Aruanda desfazem todo mal e rompem as ligações entre médium e quartinhas.

Vale lembrar que sempre que se prepara uma quartinha é preciso cuidar dessas quartinhas dependendo dos elementos que vão dentro delas estes podem apodrecer, mofar, embolorar, pegar formiga, dependendo do caso até baratas conseguem entrar dentro das quartinhas e acabam se afogando no(s) líquido(s) dentro dela.

O barro da quartinha, assim como nosso corpo, "transpira" e por isso que as quartinhas devem ser sempre de barro pois elas permitem que a água do seu interior evapore, mas deve-se ter um cuidado constante para que a quartinha não seque por completo, pois ela representa um ser vivo e o cuidado que temos com o Orixá.

Na África, todas as eram confeccionadas em barro, as escravas, quando em solo brasileiro, se encantaram, com as porcelanas das sinhazinhas e começaram a utilizar a porcelana, nos assentamentos dos Orixás femininos, porém as quartinhas de porcelana, louça, latão, metal, fazem com que a água fique estagnada o tempo todo e não evapore.

Com o passar dos séculos, tradicionalmente ficou estipulado que os Orixás masculinos, possuiriam quartinhas de barro e os Orixás femininos, assim como Oxalá, tanto Oxalufan, como Oxaguiã, poderiam usar quartinhas de porcelana.

A quartinha representa a respiração da divindade, então quando a divindade necessita dessa respiração, há o ciclo de evaporação da água através dos poros do barro.

As quartinhas também são chamadas de Busanguê, Eni, Amoré e outros, dependendo da nação. 

A Umbanda tem sua ritualística própria e dentro das suas peculiaridades está o ritual das Quartinhas.

Ao chegar num Terreiro é muito comum avistar na entrada, sobre o piso ou sobre o portal da entrada, uma QUARTINHA, que significa que o espaço é Sagrado e tem a faculdade de mostrar à primeira vista que se trata de um local de ritual religioso.

O termo QUARTINHA se refere a um recipiente de barro, usado para acondicionar líquidos com capacidade de 250 ml a meio litro. É um dos utensílios indispensáveis nos cultos afro-brasileiros, sendo usado na maioria dos assentamentos e na obtenção dos AXÉS.

Existe um costume praticamente esquecido pela maioria dos Terreiros, pelo qual, quando o filho da casa ou um visitante chega ao Terreiro, se despacha a água da QUARTINHA e coloca-se água nova na mesma. Com essa ação, entende-se que a água está transmutando as energias, dando uma purificação ao ato.

Antigamente, as quartinhas eram de barro, pois a lou­ça era um artigo raro e caro, ina­cessível às classes menos favorecidas. Panelas, vasos, tigelas, canecos, e ou­­tros utensílios feitos de bar­­ro cozido, eram comuns e de uso cotidiano, não só pe­­los in­dígenas, uma vez que os co­­lo­­nizadores mais po­bres tam­bém usa­vam uten­sílios de bar­ro cozido. Eram os vasi­lhames e uten­sílios mais po­pulares e mais baratos na­quela época.

Hoje, quando você tem os mesmos utensílios em lou­ça, pode usá-los à vontade. Até porque as quartinhas de barro precisam passar por um envernizamento externo e por um revestimento oleoso in­terno, para que a água ou outra bebida colocada dentro dela não seja absorvida pelo barro e, sob temperaturas elevadas, evapore completamente.

A importância da água: é um fator preponderante na Umbanda. A água tem o poder de absorver, acumular ou descarregar qualquer vibração, seja benéfica ou maléfica.

A água poderá concentrar uma vibração positiva ou negativa, dependendo do seu emprego. Ao se rezar para uma pessoa com um copo de água do lado, todo o malefício, toda a vibração negativa dela passará para a água do copo, tornando-a embaciada; caso não haja mal algum, a água fica fluidificada. Nunca se deve acender vela para o Anjo da Guarda sem ter um copo de água do lado.

A água que se apanha na cachoeira é água batida nas pedras, nas quais vibra, crepita e livra-se de todas as impurezas, assim como a água do mar, batida contra as rochas e as areias da praia, também acontece o mesmo, por isso nunca se apanha água do mar quando o mesmo está sem ondas.

A água da chuva, quando cai é benéfica, pura, depois de cair no chão, torna-se pesada, pois, atrai as vibrações negativas do local. A importância da água pode ser traduzida numa única palavra: "VIDA"!

As águas utilizadas para descarrego, têm fundamento parecido com a fumaça, sendo que a fumaça carrega as energias consigo similar ao vento, e a água absorve estas energias.

As águas em copos nas obrigações significam energia vital, e nos copos juntos às velas de Anjo da Guarda ou atrás das portas de entrada, têm a finalidade de atrair para si as energias que por ali passam, atraídas pela Luz ou passando pela porta. 

Os copos de águas utilizados para estes fins (Anjo da guarda ou atrás das portas) devem ser descarregados pelo menos de 7 em 7 dias, pois senão fiarão saturadas e perderão seu poder de absorção. Esta descarga deve ser feita em água corrente (na pia com a torneira aberta, por exemplo). Pois simboliza movimento, necessário para transportar as energias absorvidas por ela.

Na Umbanda, a água é um dos elementos naturais mais receptivos com uma energia altamente condutora, ela é utilizada nas quartinhas, nos copos de firmeza dos Anjos de Guarda, no batismo, em muitos rituais da Umbanda e principalmente pelos Guias Espirituais nos momentos onde há necessidade de realizar grande limpeza, purificação e energização de nosso corpo astral e de nossa casa, afinal existem cargas e energias maléficas que somente esse elemento natural é capaz de desfazer, limpar e equilibrar.

Ao desincorporar um ORIXÁ, a água da QUARTINHA proporcionará ao médium uma calma salutar após o transe espiritual.

As QUARTINHAS servem de imã espiritual para o médium, tanto o lado bom ou ruim que lhe desejam ou que assimila durante os trabalhos, nas giras ou simplesmente no que acontece diariamente. Todos os fluidos são absorvidos pelas energias constantes da água contida nas QUARTINHAS.

Uma quartinha é algo pessoal e não deve ser manipulado por mais ninguém além do seu dono e só de­ve conter suas vi­bra­ções. Deve se cuidar da quartinha como se cuida da própria alma. É como se fosse sua essência e tivesse um pouquinho da essência da sua alma.

Além do mais, caso a quartinha fique nas dependências do Templo que a pessoa freqüenta, várias coi­sas podem influir sobre ela e ele tais como demandas, etc...

Na abertura da gira, existem regras, condutas que são seguidas conforme determinação do Mentor Espiritual da Casa. Para abertura da gira é necessário defumação, Hino da Umbanda, corimbas, pontos cantados e riscados, firmezas, etc...

O terreiro só consegue desenvolver suas atividades se tiver como objetivo maior dar assistência aos necessitados que procuram para receber ajuda seja física, espiritual e às vezes psicológica.

É de suma importância a energia e sustentação da abertura da gira e para tanto é necessário que seja seguida a doutrina e tradição da religião, que tem sua forma de louvar, rezar, cantar, saudar, reverenciar, defumar...


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