FUMO NA UMBANDA

O uso Sagrado das Ervas



Historicamente, a fumaça servia como proteção aos maus espíritos e como erva medicinal para curar feridas e dores estomacais. O uso no território brasileiro começou com os Tupis-Guaranis, que tinham no fumo caráter sagrado para seus ritos, além do que, absorvem elementos da natureza essenciais para atuação no campo energético, tais como: calor do sol, magnetismo da lua, oxigênio, hidrogênio. 

Assim que chegaram em território brasileiro, os europeus se espelharam nos índios que fumavam e introduziram o fumo no ambiente social. Com isso, os marinheiros encontraram na mastigação do fumo de corda um meio prazeroso de passar o tempo.

O sopro da fumaça expressava o momento de transe dos índios e acreditava que isso afastava pragas e espíritos, além de que, o hálito do pajé se tornava peculiar e com isso era possível assimilar o seu poder.

Com o passar dos anos, o fumo se assemelhou às formas de exploração comercial mais importantes e teve uma grande expressão no cenário nacional. Contudo, como é de conhecimento da grande maioria da população, foram constatados diversos malefícios do fumo e o que era recomendado, hoje é ao contrário.

Trazendo um pouco da história para a Umbanda, o fumo e a bebida estavam presentes no dia em que a religião foi fundada por Seu Zélio de Moraes, em 1908. Contudo, eu entendo que atualmente o uso do fumo deve ser moderado.

Inicialmente não há como negar que a qualidade do fumo está cada dia mais comprometedora. Além do que é preciso distinguir: cigarros industrializados, charutos, cigarrilhas e cachimbos.

Eu acredito que em razão da nocividade e da história do fumo, o cigarro não deve ser consumido nas giras. Entendo que os componentes do cigarro não traduzem essa magia e pureza que as demais formas de consumo do tabaco. Mas, repito, isso é o que eu acredito.

Acredito na importância do fumo para a limpeza, mas que não seja este o único método para isso. As entidades podem se valer da limpeza utilizando outros elementos e compete a nós, médiuns, fazer uso dessa terceira energia, nos posicionando pelo bom senso, sem jogar fumaça na cara dos outros. 

Ao contrário do que muitos possam pensar, os trabalhos de uma entidade não se tornam mais fracos ou fortes por conta da utilização do fumo e da bebida, a força do espírito é exatamente a mesma.

"A cinza do fumo se torna nas mãos do guia um excelente elemento consumidor de miasmas negativos que limpam o campo áurico de quem está sendo atendido pelo mesmo, incluindo chacras e corpo físico[1]"

"No reino vegetal, temos ervas de várias propriedades, que quando combinadas e ativadas (queimadas) tornam-se grandes condutores energéticos, descarregadores, energizadores e equilibradores. Então, seguem algumas receitinhas: Façam charutos para caboclos com as seguintes ervas piladas: sálvia, alfazema e calêndula, pode ser enrolada na palha, o Caboclo aceita esta receita que é muito boa e funciona tanto quanto um charuto bom e natural, sem a química.

Para Preto Velho faça o fumo de cachimbo com sálvia, alecrim, folha de café e urucum. (...) Temos a opção para Exu, de pilar sálvia, cravo vermelho seco e levante e, para Pombagira, podemos usar sálvia, hibisco e rosa vermelha.

O fumo é vegetal que traz os elementos água e terra, em sua composição, e os elementos ar e fogo quando utilizado na defumação. Conjuga, portanto, quando usado pelas entidades de Umbanda, os quatro elementos básicos - água, terra, fogo, ar -, além do elemento vegetal nos trabalhos de magia. O fumo é utilizado como meio de descarrego, agindo sobre os chacras das pessoas. É utilizado como componente para defumação, onde conjuga o fogo e a fumaça para a destruição dos campos magnéticos negativos, vinculados tanto à obsessões quanto à demandas realizadas contra quem quer que seja.

O fumo tem suas características vegetais, tendo através do seu processo de desenvolvimento na natureza aglutinando as mais diversas energias e substâncias - sais minerais, hidrogênio, oxigênio, fósforo, potássio, nitrogênio, vitaminais - do solo onde foi cultivado e do meio ambiente, além da absorção da energia solar e lunar, a chuva, os ventos e razão pela qual condensa forte carga energética de impregnações etéreas que libera durante a sua queima.

Assim, o que as entidades da Umbanda fazem é utilizarem ervas, juntamente com os elementos água, fogo e ar para realizarem suas magias e defumações, desestruturando larvas astrais, miasmas e desagregando energias negativas e danosas à aura de todos.

Preste atenção na atitude das entidades incorporadas, veja que enquanto estas fumam, estão constantemente jogando baforadas da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro sobre aquele que com eles se consulta. Não tragam a fumaça, apenas enchem a boca com a fumaça e a expelem sobre o consulente ou para o ar.

Nessa hora está sendo realizado verdadeiro passe, onde a defumação se conjuga com o sopro para realizar a limpeza energética da aura e do perispírito da pessoa.

A entidade incorporada quando realiza o sopro da fumaça de seu cachimbo, charuto, ou cigarro, dando suas baforadas nos consulentes, cria com isso as condições, tanto no plano físico quanto no espiritual, a realização da magia da Umbanda, tudo sob o aval dos espíritos de luz e dos Orixás. Só o sopro em si carrega efeitos terapêuticos e espirituais poderosos, mas quando aliados à erva tem seu efeito potencializado, gerando resultados positivos como se observam nos terreiros de Umbanda.

No contato permanente com as entidades que incorporam na Umbanda, passa-se a perceber, inclusive, uma preocupação com o uso indiscriminado de fumo ou de cigarros que são comercializados, e seus conselhos para evitarem que seus médiuns tenham seu corpo prejudicado pelo uso de tais ferramentas.

A dinâmica, portanto, deve ser entendida como um todo. Alia-se, no trabalho de Umbanda, o fumo, a energia proveniente das entidades e espíritos superiores que orientam os trabalhos, a energia presente na própria natureza através do trabalho dos elementais, bem como o ectoplasma retirado dos médiuns durante os trabalhos mediúnicos, possibilitando a cura do consulente necessitado de ajuda.

O uso sagrado do tabaco, seja ele no charuto, no cachimbo ou no cigarro de palha, é fortemente utilizado pelas entidades no ambiente de terreiro. Com isso, tomamos conhecimento da onde surgiu a descoberta de se utilizar determinadas ervas, para fins, que não fossem o de se alimentar.

Acho que todo mundo já ouviu falar sobre o cachimbo da paz do velho índio, não é mesmo?

Essa expressão faz todo o sentido e vou explicar o por quê...

O tabaco, junto de outras ervas como a Jurema, o Peyote, a Cannabis e a Folha de Coca são plantas enteógenas, ou seja, ervas que contém substâncias capazes de alterar a consciência e induzir a pessoa ao transe espiritual.

A palavra enteógeno irá se referir ao uso sagrado e ritualístico dessas espécies e a utilização de forma indiscriminada e fora do contexto do que é sagrado e divino, irão dar a elas a classificação de drogas alucinógenas.

As enteógenas são consideradas ervas de poder, nesse momento retomamos a história do velho índio. O conceito de erva de poder, é inaugurado junto da descoberta dessas ervas pelos povos nativos americanos. Eles foram responsáveis pelas primeiras incursões no uso do tabaco e outras ervas, utilizando-as para fins curativos e/ou em cerimônias sagradas.

Normalmente só o Xamã (líder espiritual) da tribo poderia manipula-la e ingeri-la, salvo alguns casos de cura espiritual ou física, onde era dada a concessão ao integrante da tribo de se relacionar com essas plantas fazendo o seu uso, mas tudo isso sempre em um contexto de reverência e respeito.

Os índios acreditavam que essas ervas eram espíritos da natureza que propiciavam a eles viagens a mundos espirituais, onde nossa alma poderia habitar vivendo uma outra situação. Ao acessar essa realidade paralela, por meio do uso da planta de poder, era possível resolver lá os problemas que causavam dores e males no plano físico.

Era por meio dessa medicina tradicional, do corpo e da alma, que os Pajés trabalhavam zelando pela saúde da comunidade, da agricultura e dos animais.

Por isso à relação nutrida por esses povos às plantas de poder, era de respeito, zelo, devoção e responsabilidade. Esses mesmos povos acreditavam que o uso profano e não autorizado dessas ervas trariam dor e sofrimento.

Em muitas tradições presta-se reverência ao que chama-se de Pai Tabaco e que na Umbanda vamos entender como uma força espiritual vegetal. Diferente de um ramo de alecrim que agrega energia e pode auxiliar em algumas situações, Pai Tabaco se comporta como uma consciência, uma inteligência vegetal muito poderosa.

É uma consciência severa, porque o tabaco é uma erva de poder, onde se tem múltiplos desdobramentos, como a alteração de consciência e do estado espiritual, emocional e psíquico do indivíduo.

O uso do tabaco empregado na ritualística da Umbanda não deve causar dependência porque a entidade não fuma o charuto, cachimbo, cigarrilha ou o cigarrinho de palha. De forma prática o guia irá utilizar esse elemento baforando-o e não tragando a fumaça.

Essa fumaça, quando projetada no consulente tem um alto teor curativo.

Quando você usa o que é sagrado de forma sagrada, sagrado ele permanece. Quando você tira do espaço sagrado e leva para o profano, saiba o que você esta fazendo, pois o sagrado na figura profana, te escraviza e o escravo do tabaco é o viciado. Ele acha que tem domínio sobre si e sobre o elemento, mas ele é escravo daquela força e elemento, assim como qualquer coisa que causa dependência química, espiritual e emocional.

Utilizando-se da potência desse elemento e acessando o mistério dessa consciência articulada, Exus, Preto-Velhos, Pombagiras dentre outras entidades, têm um forte aliado na descarga de formas-pensamento, na eliminação de miasmas, na quebra de cascões espirituais, todos esses, males espirituais causados por energias negativas condensadas em nosso espírito e projetadas a todo momento em nossa vida, atravancando-a.

Sabe quando você vai no terreiro sentindo-se pesado e logo depois de tomar o passe sente um alívio? É normal que você nem saiba explicar o porquê dessa sensação, mas além de toda a energia existente naquele ambiente há também a magia manipulada pelos guias.

No momento da defumação utilizando-se a força de Pai Tabaco a entidade consegue manipular e acessar os 4 elementos da natureza, sendo a terra e água condensados no elemento vegetal e o ar e o fogo presentes na queima do tabaco e na fumaça que provém dele.

Alguns Guias chegam a cuspir em recipientes adequados, a famosa "caixinha" que fica ao seu lado, para neste ato evitar ao máximo a ingestão da nicotina e de outros elementos que não interessam para o trabalho e muito do que vem pela química industrial.

Com isso posto, é preciso que se atente ao uso de charuto de boa qualidade. Quanto menor a qualidade do charuto, mais substâncias químicas ele carrega e menos folha de tabaco ele possui. O cigarro comum por exemplo não serve como elemento ritualístico ou de magia, sua composição inclui mais de 4.250 outros agentes tóxicos e a quantidade de tabaco é ínfima.

Use um charuto de qualidade, não faça a sua magia, a sua reza com o pior, porque a qualidade que você oferece é a qualidade daquilo que você espera. Quando for manipular ele, peça licença a Pai Tabaco, a essa consciência presente nessa força vegetal. Peça para que a partir do momento que você baforar que seja purificador, seja magia sagrada acontecendo naquele momento.

Pai Tabaco é uma consciência. É um espírito. Sua vida pulsa nas matas, em cada nova raiz, muda, folha, onde há vida vegetal, flui por ali também esse mistério. Em outras culturas, outros mistérios foram revelados como é o caso da Mama Coca na Colômbia e que assim como o Tabaco, também teve sua estrutura profanada.

A exploração dessas forças agregam em si uma reatividade, que é o que acontece com tudo o que se negativa. O negativo do amor é o ódio, o negativo da lei é a desordem e assim por diante. Quando essa força é acessada com intuito de exploração e um processo de dessacralização daquilo que carrega o poder da cura é trazendo a dor que ele reage. Não por uma vontade própria de vingança, mas porque assim o é.

Eu sou um espírito severo que entra e sai de teu corpo. Não fui criado para o teu prazer. Habito na mata, na terra, na água, no fogo e no ar. Conheça meus mistérios. Ando por aqui muito antes de você!


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