ZÉ PILINTRA

 Linha dos Malandros



Zé Pilintra ou Zé Pelintra (como é conhecido em alguns lugares) é o Padrinho do nosso Chão, e faz parte da Linha dos Malandros e possui uma grande importância para a representação daqueles que se encontraram durante as suas vidas marginalizados pela sociedade, pois prova através de sua ação como Guia Espiritual que o falso conceito de malandro nada mais é do que um esteriótipo criado por aqueles que não possuem a visão dos verdadeiros desafios no caminho dos humildes. 

Em cada região do país ele vem com uma roupagem, em cada lugar que passa desfila um figurino, para cada caminho que percorre faz isso de forma singular e assim, se manifesta nos mais diversos credos, tradições e crenças brasileiras. Fala a cada uma delas se adequando ao espaço que lhe foi concedido. 

Por isso também multiplica-se em suas formas de ser e sentir e desta forma ganha expressão, Seo Zé agora é conhecido, "tem nome" e às vezes até é chamado de 'doutô'.

Dentro do gingado próprio da malandragem se comunica e se faz entender e como é bom em se fazer entender, é bom porque se identifica e se identifica porque fala de igual, fala com a propriedade de quem já passou pelos mesmos desacertos. É essa essência que carrega consigo, de quem já esteve às margens, de quem viu de frente o olhar que fulmina injusto e recaí inevitavelmente sobre o menos favorecido.

Adaptável, como bom malandro tem que ser. Brinca com o contraditório, ora é sagrado, ora é profano. Confunde os menos avisados e surpreende os acomodados.

Mas quem é esse espírito, que transita por entre as religiões, que não se restringe a uma só linha de manifestação e que abriu as portas dos terreiros para que a malandragem invadisse as giras, transformando o espaço do sagrado na rua, nos becos e nas vielas?!

Prazer, José Pelintra. Para os mais chegados Seo Zé. 

Catimbó e Macumba Carioca

Antes de surgir na Umbanda, inclusive antes mesmo da Umbanda nascer, a personificação de Zé Pelintra já se apresentava no Catimbó (norte do país) e nas Macumbas Cariocas.

No Catimbó ele era entendido por meio dos mitos e lendas sobre sua suposta vida (suposta porque não há provas evidentes de que ele realmente tenha existido nesse plano) e nessa manifestação traz consigo um traje mais simples do que o visto na imagem popular em que ele usa terno e sapatos brancos e na cabeça carrega um chapéu panamá.

No Catimbó ou na Jurema Sagrada, Zé usa chapéu de palha e cachimbo de angico, é um homem forte, robusto e joga capoeira como ninguém, é um encantado.

Nesse culto ele se encanta* e se apresenta pela primeira vez como Mestre Zé Pelintra ou Príncipe Zé Pelintra. Já nesses primórdios ele trazia "aquele jeito extrovertido que interage com as pessoas, começa a contar histórias de suas vivências e aquilo cativa, porque após seu encantamento ele traz histórias de como driblou os desafios da vida".

Destaco aqui que no Catimbó Zé Pelintra é um espírito, porque nesse culto o espírito não se aproxima do médium e incorpora como acontece na Umbanda, mas sim irradia suas energias de onde ele está. Desta forma Zé Pelintra não é entendido como uma falange e sim, como um espírito que já viveu em terra e que "acosta" nos catimbozeiros.

Obs: hoje boa parte dos "novos juremeiros" acreditam que esse mestre se tornou uma consciência e que não acosta mais em seus filhos.

Existe um ser irradiando a sua força, sua energia em todos os seus filhos ao mesmo tempo. Por isso há uma similaridade, entre as manifestações de Zé Pelintra no Catimbó.

Bem, mais tarde por consequência do êxodo rural, que acontece por sua vez, em decorrência da seca nos sertões nordestinos, Zé Pelintra migra para os centros urbanos e aterriza no morro carioca, tendo assim seu primeiro encontro com as efervescentes macumbas cariocas.

O tutor explica sobre as macumbas ressaltando que naquele momento acontece um culto que mesmo que se configurasse como uma busca pela caridade, eclodia de forma desorganizada e portanto incorporava-se nos médiuns vários espíritos.

Nesse momento no morro carioca começam a acontecer muitas manifestações bem próximas ao que era Zé Pelintra e aí nascem outros malandros dentro do que era entendido como a malandragem naquela época. Não era só Zé Pelintra que agora estava, agora tinha Zé Pretinho, Camisa Listrada, Malandras, Maria Navalha, tinham vários outros malandros, vários outros que se apresentavam na mesma característica de Zé Pelintra.

Enfim Zé Pelintra agora está na "cidade grande", se aconchega no morro e de lá só "desce" para iniciar sua trajetória na Umbanda. 

Muitos desinformados o associa com imagens malignas e criaturas que fazem o mau, quando na verdade o seu espírito se desenvolveu tanto após a desencarnação que eles voltaram a este plano como Guias para benefício dos que o procuram.

Zé Pilintra é muito adorado e respeitado como entidade espiritual de origem afro-brasileira. Ele enche o coração de todos com alegria e a boa malandragem. Admirado na Umbanda, é considerado como um espírito humilde, de bondade plena, patrono dos bares, rei da vida noturna, boêmio e apaixonado por jogos e disputas.

Ele é a lição para os menos informados de que nem todos os desafortunados no sistema de um país, representam alguma ameaça para a sociedade, e que devemos respeitar e dar valor aos que mesmo perante tanta dificuldade, ainda pagam com um belo sorriso os mais julgadores olhares.

Linha dos Malandros e Zé Pelintra

Agora que Zé chega na Umbanda ele precisa de uma linha para manifestar correto? Bom, quando falamos de Zé Pelintra as regras realmente não fazem tanto sentido assim.

É comum que presenciemos a manifestação de Zé Pelintra e dos malandros em diversas linhas de trabalho, sendo as mais comuns a de Baianos e Exus.

A "mística dos malandros é uma miscelânea cultural religiosa" e por esse motivo eles também vão agregar características de manifestações diversas. "Pode vir Malandro com muita influência do Catimbó que usa do cachimbo da Jurema, pode vir aquele malandro "mais carioca" que se parece com Exu que usa charuto, cigarrilha.. tem o malandro de Pernambuco que fala muito de Encantados e isso vai se moldando de acordo com as influências do terreiro e também daquele espírito - qual região ele quer trazer naquele momento para influenciar.

Dessa forma, podemos entender que a falange 'Zé Pelintra' transita por entre várias linhas em razão dessas agregações culturais ao qual essa personificação passou e que por ora se propõe trazer para a casa.

Então encontramos grupos de espíritos que trazem o mistério malandro (força e atuação espiritual) e o campo de atuação dessa linha, mas que vibram em si também outras características usando, por exemplo, elementos, trajes, modos de falar e se comportar, ensinamentos e etc vistos em outras manifestações religiosas e populares, que o possibilitam trabalhar em diferentes linhas e receber delas suas irradiações.

"Linha dos Malandros" é uma nomenclatura que surge recentemente sendo a mais nova dentro da religião e por esse motivo - atualmente -passa por um processo de adequação e entendimento pelos umbandistas, mas que já existe dentro da Umbanda no plano espiritual e é regida e sustentada pelos divinos orixás.

Como dito Zé Pelintra pode se manifestar em outras linhas, mas quando acontece uma gira propriamente de malandro 'Seu Zé' chega e junto da sua falange, falanges de outros malandros também se unem nessa manifestação.

Zé Pelintra é mais para ser contemplado, sentido e vivenciado do que explicado com uma fórmula que finalize essa discussão."

Pois bem o que podemos entender então é que Zé Pelintra é uma falange que transita com maior liberdade pelas linhas de trabalho e que se apresenta dessa forma porque se adequa (e isso também faz parte do seu mistério) a maneira que as casas e seus adeptos a assimilam.

Não quer dizer que Zé Pelintra seja o chefe da linha de malandros, mas ele é a personificação do malandro e a falange desse mistério que mais se popularizou dentro da Umbanda e também na cultura popular.

*encantar no catimbó = nessa vertente acredita-se que após a morte algumas pessoas se "encantam" e viram mestres que se manifestam no culto, trazendo ensinamentos e promovendo curas.

Para compreender melhor esse espírito solidário, devemos entender o conceito do que é marginal, e do que é estar à margem da sociedade. Zé Pilintra como um Malandro da Umbanda, é alguém que teve condições de vida sofrida e que foi negligenciado como ser humano - cenário do qual encontramos diversas pessoas em nosso país - mas que não guardou rancor em seu peito ao desencarnar. Ao contrário, mesmo após a morte ele ainda acreditava na salvação e a prova maior disso é o sorriso sempre presente em seu semblante, a qual devoção conferiu a ele uma maior elevação espiritual pela força do entendimento e confiança no Divino.

Figura Internacional

Zé Pilintra é a representação do famoso malandro carioca, ele nunca foi esquecido e é uma figura até mesmo com fama internacional. Enquanto no Brasil as pessoas distorcem sua verdadeira imagem, colocando padrões religiosos que abominam conceitos culturais  o próprio Walt Disney se encantou com o Malandro provavelmente em algum catimbó. 

Prova disso? Um dos poucos personagens que representa nosso país internacionalmente: Zé Carioca.

Além do nome com total ligação às nomenclaturas dos Malandros, Zé Carioca aparece com seu gingado malandramente, representando o andar do Pilintra, além de todo seu modo de agir, falar e se vestir. Não podemos também esquecer o fato de que o papagaio é um animal de Exú, ou seja, todo o conceito do personagem foi inspirado provavelmente em algum terreiro.

História de Zé Pilintra

A história mais aceita dessa entidade é que ele tenha nascido no povoado de Bodocó, sertão pernambucano. E sua família precisou mudar para Recife, devido a uma grande seca que devastou toda a região.

Infelizmente, quando menos esperava, o menino José dos Anjos perdeu toda sua família, vítima de uma doença desconhecida. Sem ter para onde ir, se criou no rua no meio do porto, se sustentando como podia.

Dormia em meio a malandragem e trabalhava como garoto de recados, cresceu tendo a noite em suas mãos: amava os jogos e as mulheres.

Zé possuía grande habilidade com facas, ninguém tinha coragem de enfrentá-lo, era temido até mesmo pela polícia. Na juventude, decidiu então mudar-se para o Rio de Janeiro, e logo passa a ser conhecido nas áreas boêmias da cidade. O caboclo de sangue quente encontra-se em um cenário de transformação, onde os mais pobres começam a povoar pedaços das cidades em desenvolvimento, surgindo assim as favelas.

Exímio conhecedor de tratamentos com ervas (adquirido entre o povo nordestino), temido nas mesas de jogos e apostas, e principalmente um grande galanteador, não se sabe ao certo como aconteceu o assassinato do Zé, mas pode-se afirmar que foi pelas costas. Pois não havia ninguém no litoral carioca capaz de enfrentar o Pilintra frente a frente.

As características de Zé Pilintra

Zé Pilintra na Umbanda é a única entidade que é aceita em dois rituais - que são totalmente opostos - na Linha da Esquerda (Linha da sombra, regida pelo Orixá Exú, onde apresenta maior ligação e sintonia com as características humanas para entregar os aconselhamentos) surge como um tipo de Exú junto com os Exús e Pombagiras e na Linha da Direita, (lado da Luz, de onde regem todos os outros Orixás) ele se apresenta com os Malandros nos rituais de Caboclos e Pretos-Velhos.

O Zé Pilintra aparece no terreiro - assim como todo Malandro - para tirar energias negativas, expulsar ações malignas que são geradas pelo preconceito, trazer purificação para a alma dos que necessitam, cura para todos setores e abertura de caminhos para todo tipo de assunto.

Ele possui um linguajar simples, boêmio. Faz referências à vida como um jogo, pois em seus conselhos ele procura orientar-nos de que esse plano é uma fase e temos que simplesmente aprendermos a jogar, onde todas as vitórias devem ser comemoradas e as derrotas são para fortalecimento e conhecimento para que não mais cometamos o mesmo erro.

Suas vestimentas são bem conhecidas, e uma característica interessante é a de não usar preto. 

Desta forma é representado sempre trajando ternos brancos, sapatos cromo, gravata vermelha e chapéu panamá de fita vermelha e muitas vezes também aparece de bengala. 

Uma das suas principais características é a elegância, molejo e simpatia.

Oferendas a Zé Pilintra

IMPORTANTE: toda oferenda deve ser orientada por alguém responsável do Candomblé ou Umbanda, cada Orixá ou Guias possuem suas peculiaridades que devem ser respeitadas e guiadas por quem os conhecem após anos de prática na religião.

Zé aprecia muitos tipos de comida, mas a suas favoritas são originárias da sua região nordestina. 

Por isso, Farofa de linguiça, linguiça frita, sardinhas fritas ( de preferencia no óleo de Dendê), abobora com carne seca, queijo Coalho, Jiló, coco e rapadura, fazem parte de sua lista.

Outros agrados também é cerveja branca bem gelada, velas, cigarros, jogos e moedas. Seus principais pontos de força, estão nas ladeiras dos morros, nas encruzilhadas e esquinas.

Dia de Zé Pilintra

Dia 28 de outubro é comemorado em sua homenagem, porém os dias da semana variam bastante por conta das Linhas diferentes em que atua. Os que estão a trabalho de quebra de demanda, possuem a terça-feira como principal dia, já os que surgem para a cura, o sábado é o melhore dia.

EU SOU O ZÉ PILINTRA

Sou guia, sou corrente, egrégora e proteção.

Sou chapéu, sou terno, gravata e anel.

Sou sertão, sertanejo, carioca, paulista, alagoano e Brasileiro.

Sou Mestre, Malandro, Baiano, Catimbozeiro, Exu e Povo de Rua.

Sou faca, facão e navalha. Sou armada, cabeçada e rasteira.

Sou Lua cheia, sou noite clara, sou céu aberto.

Sou o suspiro dos oprimidos, sou a fé dos abandonados.

Sou o pano que cobre o mendigo, sou o mulato que sobe o morro e o Doutor que desce a favela.

Sou Umbanda, Catimbó e Candomblé. Sou Angola e sou Regional.

Sou porta aberta e jogo fechado.

Sou cachimbo, sou piteira, cigarro de palha e fumo de corda. Sou charuto, sou tabaco, sou fumo de ponta, sou brasa nos corações dos esquecidos.

Sou jogo de rua, sou baralho, sou dado e dominó. Sou cachetinha, sou palitinho, sou aposta rápida. Sou truco, sou buraco e carteado.

Sou proteção ao desamparado, sou o corte da demanda e a cura da doença.

Sou a porta do terreiro, sou gira aberta e gira cantada.

Sou ladainha, sou hino, sou ponto, sou samba e dou bamba.

Sou reza forte, sou benzimento, sou passe e transporte.

Sou gingado, sou bailado, sou lenço, sou cravo vermelho e sou rosas brancas.

Sou roda, sou jogo, sou fogo. Sou descarrego, sou pólvora, sou cachaça e sou Jurema.

Sou lágrima, sou sorriso, sou alegria e esperança.

Sou amigo, parceiro e companheiro.

Sou Magia, sou Feitiço, sou Kimbanda e sou demanda.

Sou irmão, sou filho, sou pai, amante e marido.

Sou Maria Navalha, Sou Zé Pretinho, sou Tijuco Preto e sou Camisa Preta.

Sou sobrevivência, sou flexibilidade, sou jeito, oportunidade e sabedoria.

Sou escola, sou estudo sou pesquisa e poesia.

Sou o desconhecido, sou o homem de história duvidosa, mas sou a história de muitos homens.

Sou a vida a ser vivida, sou palma a ser batida, sou o verdadeiro jogo da vida:  Eu sou Zé Pilintra

Cores de Zé Pilintra

As suas principais cores são vermelho e branco, lembrando que ele nunca se utiliza do preto.

Inspirações em frases

"Moço, se a vida tá te batendo tanto, é porque tu aguenta, é porque tu é forte";

"Às vezes a maior sabedoria é parecer não saber nada";

"Moça, ter proteção não quer dizer necessariamente que tudo sempre vai dar certo. Ter proteção quer dizer que mesmo quando tudo dá errado, acaba bem";

"O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória";

"Escolho bem os meus inimigos, pois não dou a qualquer um a honra de me enfrentar";

"Você pode até não ter dinheiro, mas se te invejam é por que você tem valor!".

Saudação ao Zé Pilintra

"Salve Seu Zé Pilintra! Salve os Malandros! Salve a Malandragem!"

Aprenda com Zé Pilintra que nada importa o que os outros acham, nós somos responsáveis por nossa felicidade e a real missão nesse mundo é descobrirmos os melhores caminhos para alcançá-la, pois não há no mundo o que pague o valor da felicidade.

Axé Padrinho!


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