UNIVERSO DUAL NA UMBANDA

Os dois pilares



Aqui falarei sobre esquerda e direita, e tentar explicar essa nomenclatura, o que vem a ser isso, como atua e tal, porém não é tão simples assim explicar sobre isso. Tentarei abordar um pouco sobre o tema, mas terei que retomar ele diversas vezes para trazer uma maior clareza do assunto.

Para facilitar as coisas não vou explicar aqui me baseando sobre os pilares da severidade ou da misericórdia, nem ao menos sobre conteúdo cabalístico ou magístico, tentarei explicar através da explicação de terreiro, de uma forma mais simples e direta, com exemplo das linhas de trabalho e de suas atuações.

Primeiro vamos entender quem são as linhas de trabalho que atuam na esquerda e na direita.

Na direita podemos citar os Caboclos, Pretos-Velhos, Baianos, Erês, Marinheiros e outros.

Na esquerda podemos citar os Exus e Pombagiras.

Contudo ainda existem certas linhas de trabalho que parecem se adaptar a tudo, como os malandros, ciganos, boiadeiros e até alguns intermediários de Ogum. Seria mais ou menos um caminho do meio. Porém não vem ao caso agora.

Em uma visão bem simples, o povo determina que a direita é boazinha e a esquerda é do mau. 

Bom, eu acho que eles estão bem enganados quanto a isso, ou nunca viram um preto-velho kimbandeiro trabalhando ou um caboclo africano. Mas o que realmente pode-se dizer, a grosso modo, é que a direita trabalha com fatores irradiadores e a esquerda trabalharia com fatores consumidores.

Porém, é uma visão bem simplista, que não reflete a totalidade e a abrangência da ação desses espíritos. Mas isso aqui é apenas um texto introdutório a esse conceito. Nesse pensamento podemos dizer que os Exus e Pombagiras trabalham consumindo e absorvendo os desequilíbrios, as viciações, os desvirtuamentos e a negatividade. Enquanto a direita trabalharia reestruturando, levando o ser a uma evolução moral, com reestruturação interior, etc.

A esquerda possui características próprias, não sendo exatamente maligna, mas possui funções muito próximas as naturais que podem ser compreendidas dentro da nossa ética humana como malignas. Não são seres trevosos comparados aos demônios, mas alguns podem sim serem bem maus dentro da nossa ótica. Vejam, a esquerda não é ética, eles são amorais e eu explico isso melhor na página do site em Exu.

Converse com um Exu de verdade, e não com médiuns mistificadores e anímicos, para perceber a diferença no discurso desse trabalhador da esquerda. Você verá que alguns deles, se não muitos, dirão que alguém tem que fazer esse trabalho pesado, e de que serve apenas trabalhar na luz e evoluir sendo que é lá embaixo que o "bicho-pega".

Assim como você verá, ao conversar com um guia de direita, ele dirá que faz incursões as zonas mais densas e trevosas acompanhado do povo da esquerda, muitas vezes resgatando ou servindo de salvaguarda para alguns processos e missões.

Bem por cima é assim que funciona a teoria de esquerda e direita, ou seja, não tem nada a ver com a força de guia ou poder que ele tem, até porque como dizem os próprios espíritos:

"A Chama de uma pequena vela já é suficiente para acabar com um ambiente de escuridão".

Acho também que uma das primeiras coisas que despertam a curiosidade do médium iniciante é o seu Exu. Quem é? Como trabalha? E por aí vai. Contudo, o objetivo desse texto não é lhe dizer quem são seus Exus e Pombagiras, mesmo porquê, tais informações só podem ser obtidas pela vivência dentro do terreiro; mas podemos trazer boas informações sobre eles, que facilitarão o seu entrosamento com suas vibrações e energias. 

Para começar, tenha certeza, TODOS - incluindo você -, independente da religião, do estilo de vida, das crenças e das próprias convicções, recebem o auxílio de um Exu e uma Pombagira. 

Aliás, UM NÃO! Vários! Como assim? Talvez seja surpresa para você, mas saiba que você tem vários Orixás, ordenados em seu Ori (ou cabeça, ou coroa) de acordo com a ordem de importância para o seu equilíbrio vibratório. E, cada um desses Orixás - seja o primeiro, o segundo, o terceiro ou seus respectivos adjuntós - possui PELO MENOS um casal de servidores ou capangueiros de Demanda. Digo "pelo menos" porque não é comum, mas é possível que, devido às suas próprias necessidades energéticas, vibratórias e kármicas, algum dos seus Orixás tenha mais que a dupla mencionada. 

E por que os Orixás têm os seus servidores? A resposta é muito simples: o servidor ou capangueiro do Orixá é aquele que tem por função auxiliar, defender e acompanhar seu filho no dia a dia da vida encarnada, durante as lutas travadas na matéria, trazendo para o médium as orientações do Orixá e levando para ele os pedidos, as preces e as necessidades de seu filho. O Exu (e, a partir de agora, quando falarmos "Exu" estaremos nos referindo também à "Pombagira") atua, portanto, como protetor, mensageiro entre "Ayê" e "Orun" e facilitador da vida material, tanto quanto o karma e o merecimento de seu protegido permitirem. 

Em outras palavras, ele é o PREPOSTO do seu Orixá, cuidando de você durante a sua rotina diária.

Daí, então, tiramos algumas conclusões importantes: a primeira delas é que, como falado, se temos vários Orixás e cada um deles possui pelo menos um casal de servidores, então temos VÁRIOS Exus e Pombagiras, prontos a trabalhar a nosso favor. Mas isso não quer dizer que você, durante toda a sua trajetória mediúnica, sequer, irá conhecer a metade deles. Talvez apenas três ou quatro, no máximo. 

O mais comum é que, durante todo o seu trabalho mediúnico, você venha a conhecer, na verdade, somente os servidores dos seus dois primeiros Orixás. Afinal, se os seus dois primeiros Orixás são os que têm maior importância para o seu equilíbrio vibratório, os seus respectivos servidores, também, são os que, com maior facilidade, poderão te ajudar. Isso quer dizer, que, ainda que você venha a conhecer o servidor do seu terceiro ou quarto Orixá, ele NUNCA terá para você e para o seu bem-estar espiritual a mesma importância, o mesmo peso, que os dos dois primeiros. 

Outro ponto importante a salientar é que, além de cada Orixá possuir pelo menos um casal de capangueiros, dentre eles UM será o mais importante, será considerado o primeiro servidor daquele Orixá e, provavelmente será com ele que você irá trabalhar, independente do sexo do médium, do servidor ou do Orixá a quem sirva. Sendo assim, embora não seja comum, é possível que o primeiro servidor de um Orixá masculino seja uma Pombagira, ou vice-versa, podendo o médium ser homem ou mulher.

Portanto, o mais natural é que, com o seu desenvolvimento mediúnico, mesmo que você, esporadicamente, receba um terceiro ou um quarto Exu, aqueles com quem mais trabalhará serão o primeiro servidor do seu primeiro Orixá e o primeiro servidor do seu segundo Orixá. E, muitas vezes, esses capangueiros também formarão um casal, sendo um deles um Exu e o outro uma Pombagira, mantendo o equilíbrio "Yin e Yang", "atividade x passividade".

Um outro ponto importante é que, se os servidores dos nossos Orixás têm por função nos auxiliar, defender e acompanhar na vida material, então nossa ligação com eles deve estar sempre cristalina e consistente. Além disso, se, por algum motivo nos faltar essa ligação, não apenas nos faltará a sua proteção e auxílio, como também poderemos vir a ter algum grau de dificuldade na comunicação com os nossos Orixás, já que, como mensageiros, são os nossos Exus que estabelecem o canal por onde nossa comunicação mental flui até os Orixás e vice-versa. Inúmeros casos são os que chegam aos terreiros, todos os dias, em que a pessoa, por mais que tente, parece não conseguir a orientação, a intuição e o auxílio dos seus Orixás. 

Casos assim, são resolvidos cuidando primeiro da ligação energética entre ela e os seus Exus, fortalecendo essa comunicação, para que, por fim, Exu possa ter condições de criar a ponte vibratória entre o médium e o seu Orixá.

Pelo exposto, já dá para concluir que há coisas que podem fortalecer a ligação entre você e seu Exu, e coisas que, ao contrário, devem ser evitadas, por serem capazes de enfraquecê-la.

Você FORTALECE seu canal de comunicação com seu Exu e, portanto, também com seu Orixá:

  1. Quando dá chance ao seu Exu de trabalhar, não faltando às sessões e comparecendo, não apenas de corpo presente, mas também com a sua vontade e amor às ocasiões em que ele possa se manifestar.

  2. Quando você atende a todas as suas orientações e solicitações, sejam aquelas transmitidas pela sua própria boca quando incorporado, as captadas por intuição ou as transmitidas pelo seu dirigente espiritual.

  3. Quando você desenvolve sentimentos de confiança, gratidão e admiração pelo seu Exu.

  4. Quando você não frequenta lugares nocivos às suas energias e não utiliza substâncias que atraem para si eguns e quiumbas.

  5. Quando você cuida bem de suas obrigações espirituais e dos compromissos para com o seu Orixá, aquele a quem o seu Exu serve. E essa é uma via de mão dupla: Se sua ligação com seu Orixá estiver boa, a ligação com seu Exu também estará; se sua ligação com seu Exu estiver boa, a sua ligação com seu Orixá também estará.

Você ENFRAQUECE seu canal de comunicação com seu Exu e, portanto, também com seu Orixá:

  1. Quando você descumpre qualquer dos itens citados anteriormente.

  2. Quando você faz trabalho espiritual pedindo ajuda de outro Exu que não seja o seu. E isso é muito comum, infelizmente! É comum chegarem ao terreiro pessoas com sérios problemas espirituais e materiais porque, em dada ocasião, foram a algum lugar onde lhes receitaram fazer aquele trabalho ou arriar aquele padê para o Exu do Pai de Santo daquela casa ou para outro qualquer, pedindo-lhe auxílio. Entenda que NÃO HÁ Exu que possa lhe auxiliar mais que o SEU PRÓPRIO! Basta que ele esteja bem cuidado, com a ponte energética entre ele e você bem construída, cristalina e sólida. Pedir auxílio a outros é como a criança que pede alimento para o vizinho tendo sua mãe dentro de casa. Isso, além de construir um vínculo desnecessário entre você e um Exu que não é seu, enfraquece e ENQUIZILA o seu próprio Exu!

  3. Quando você usa coisas dadas por um outro Exu, incorporado em outra pessoa. Entenda que, aquilo que a Pombagira da sua vizinha ou o Exu do seu amigo resolveram te dar, passou pelas mãos deles, foi preparado, foi vibrado e, por isso, carrega as energias DELES, não a dos SEUS Exus. Usar essas coisas é o mesmo que aceitar em seu campo vibratório energias às vezes conflitantes com as suas próprias. É o caso de presentes como perfumes, batons, lenços, pulseiras, peças de roupa ou qualquer outra coisa que pertencia aquele Exu ou Pombagira e que, agora, ele - ou ela - resolveu te dar. Em casos assim, agradeça e NÃO USE. Se não for possível recusar, receba e depois despache. Sobre como despachar, pergunte ao seu dirigente espiritual, pois cada caso é um caso.

  4. Quando você recebe algum presente de algum Exu incorporado e não usa, mas mantêm dentro do seu quarto de dormir. Aquilo está vibrado, está energizado! E, mantendo-o dentro de casa ou do seu quarto, aquelas energias estarão se espalhando pelo ambiente, e poderão atrapalhar as suas energias próprias, construir vínculo com um Exu que não é seu e enfraquecer os laços com seu Exu verdadeiro.

  5. Quando você se apega demais a um Exu de outra pessoa, seja porque tenha lhe auxiliado com orientações, ou seja pela beleza de sua incorporação, pela sua performance, pela aparência, etc. Entenda que vínculos vibratórios também são construídos pela admiração, e a admiração excessiva a um Exu que não é seu, facilita a criação da ponte mental com ele, em detrimento da ponte com o seu próprio Exu. Como nos exemplos anteriores, isso pode enfraquecer sua ligação com seu Exu real e ainda enquizilá-lo. Se o outro Exu te orienta e te dá bons conselhos, seja grato. Isso basta!

  6. Quando você se apega demais a um Exu que VOCÊ MESMO recebe, mas que não é o seu primeiro e nem o segundo em importância. Da mesma forma que no exemplo anterior, a admiração irá fortalecer os vínculos entre você e um Exu que, nesse caso, embora sendo servidor de um dos seus Orixás, não terá NUNCA a mesma condição de te ajudar que os servidores dos seus primeiros Orixás e, por isso, pode até acabar atrapalhando a sua ligação com esses, que são os mais importantes. E isso é muito comum em médiuns novos, inexperientes, que ficam fascinados pela forma como dança aquela Pombagira que ocasionalmente recebe, ou como se comporta aquele Exu que de vez em quando baixa. E ainda piora se o médium ainda não sabe quem são os seus primeiros Exu e Pombagira. Pode começar a achar que os primeiros são aqueles que na verdade não são, fixar essa ideia, passar a tratá-los como os mais importantes para si, passar a chamá-los mentalmente em qualquer situação de dificuldade na vida e passar a tentar sintonizá-los nas sessões mediúnicas, aumentando seu vínculo mental cada vez mais com estes, e diminuindo ou enfraquecendo a ponte vibratória entre si e seus primeiros Exus de verdade. Nesse caso, aconselha-se CALMA, que o médium não se precipite e espere, sem depositar admiração excessiva em nenhum de seus Exus, até que sejam confirmados os que são realmente os primeiros, através da própria mediunidade, do seu dirigente espiritual ou de um jogo esclarecedor.

Quando qualquer um dos itens citados acontece, ocasionando o enfraquecimento dos vínculos vibratórios com os reais Exus da pessoa, algumas medidas deverão ser tomadas, ou algumas consequências indesejadas poderão acontecer. E, nesse ponto, devemos lembrar que, faltando comunicação entre a pessoa e seus principais Exus, tudo aquilo em que eles poderiam ajudar e facilitar ficará mais difícil e, pelo descontrole vibratório gerado, energias de Exu passarão a se expandir desgovernadamente ao redor do médium, sem ter quem as controle devidamente, podendo ocasionar mal-entendidos (já que a energia de Exu atua sobre a comunicação) e, a partir deles, desemprego, acusações injustas, término de relacionamentos e muito mais. Como as energias de Exu também atuam sobre "movimento", trazendo mudanças inesperadas, uma vez descontroladas podem gerar violência, assaltos, acidentes e até morte. 

É preciso, portanto, PRESSA para reconstruir o canal entre o médium e seus Exus, para que essas energias possam, novamente, ter quem as controle. E nunca é demais ressaltar que NÃO É o Exu o causador de qualquer dessas consequências negativas, mas justamente A FALTA DELE, a falta de uma ponte vibratória consistente entre ele e seu médium, por onde ele possa sintonizar-se adequadamente com seu protegido e escoar aquelas energias em excesso ou descontroladas.

A primeira coisa a fazer em casos assim é saber qual ou quais foram os fatores que geraram o desequilíbrio; verificar se há algum objeto a ser despachado, se há algum pedido de desculpas a ser feito e outras coisas mais. Após isso, é hora de consertar o estrago; e, consertar o estrago significar DESFAZER os possíveis vínculos criados com outros Exus e FORTALECER os vínculos com os principais Exus da pessoa. 

Para isso, medidas emergenciais podem e devem ser tomadas, utilizando até mesmo recursos materiais como padês, banhos, descarregos e firmezas urgentes. Além disso, é importante que o médium mude o seu padrão mental em relação ao seu Exu principal. É importante que direcione com mais constância seu pensamento a ele e que passe a cumprir todas aquelas observações citadas anteriormente como favorecedoras da construção de vínculos energéticos.

Um outro recurso bem eficaz é a utilização de algum objeto, em seu dia a dia, que tenha sido vibrado anteriormente pelo seu Exu, como um anel ou uma pulseira, por exemplo. Esse objeto, por ter sido vibrado, terá sido carregado energeticamente e, durante sua rotina, ao usá-lo, o médium estará trocando vibrações com o seu Exu, que o preparou. 

Aliás, é comum também que, em alguns terreiros, durante ocasiões especiais, os Exus possam utilizar alguma vestimenta diferente da tradicionalmente branca, como uma capa, um vestido ou um chapéu. Enquanto o Exu, incorporado, estiver utilizando essa vestimenta, ele a estará energizando com suas próprias vibrações, da mesma forma que acontece quando carregamos uma bateria elétrica. Essa carga energética é cumulativa, e vai sendo absorvida pelo tecido ou pelos metais que compõem aquelas vestes e adereços. 

No dia em que, por qualquer motivo, os vínculos entre o médium e seu Exu estiverem enfraquecidos, ao recebê-lo durante o trabalho mediúnico utilizando aqueles paramentos, o médium poderá REABSORVER parte daquela energia que tinha sido ali acumulada anteriormente, favorecendo o fortalecimento da ligação vibratória danificada. 

Por isso, julgamos importante que haja pelo menos algum material de trabalho que o Exu ou a Pombagira possa manipular e utilizar durante algumas ocasiões, transmitindo-lhe energias que, depois de acumuladas, poderão ser úteis para o fortalecimento vibratório do próprio médium. 

Aliás, além dessa função, as roupas e capas também servem como uma proteção adicional, defendendo o médium de cargas negativas durante a realização de algum trabalho. 

Normalmente, essas roupas são nas cores preta e vermelha, mas é possível (não obrigatório) que o Exu deseje incluir algum detalhe na cor representativa do Orixá a quem serve, apenas para ser mais facilmente identificado.

Enfim, o bom relacionamento entre o médium e seus principais Exus é sempre fundamental para o seu equilíbrio, segurança espiritual e até material. Mas, torno a dizer, esse relacionamento tem que ser construído e fortemente alimentado SOMENTE com os seus Exus principais. 

Não adianta pedir à Pombagira da amiga ou ao Exu do outro Pai de Santo! É com os SEUS, e somente com eles que o vínculo deve ser construído. Caso contrário, depois não haverá nem choro e nem vela; e, nesse caso, preta e vermelha!

Mantenham uma coisa na cabeça: O Universo é Dual, sempre procura o equilíbrio, nem tanto ao céu e nem tanto a terra.

Mutubá


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